Podemos
constatar que o amor, carinho, compreensão, respeito, amizade, afecto,
solidariedade, atenção e companheirismo têm uma forte chance de constituir o
núcleo central da representação da afectividade. A concepção de afectividade em
relação professor/aluno evidencia que ela emerge como um sentimento, uma
atitude, um estado e uma acção. Enquanto
sentimento, a afectividade aparece no discurso dos participantes de duas
maneiras: primeiro concebida com amor,
carinho e afeição entre as pessoas, trata-se de um sentimento que nasce na
interacção entre os seres humanos na relação interpessoal. A afectividade é um
estado de afinidade profunda entre os sujeitos. Assim, na interacção afectiva
com outro sujeito, cada sujeito intensifica sua relação consigo mesmo, observa
seus limites e, ao mesmo tempo, aprende a respeitar os limites do outro. A
afectividade é necessária na formação de pessoas felizes, éticas, seguras e
capazes de conviver com o mundo que a cerca. No ambiente escolar afectividade é
além de dar carinho, é aproximar-se do aluno, saber ouvi-lo, valorizá-lo e
acreditar nele.
As
psicólogas Cláudia Davis e Zilma de Oliveira em seus estudos retratam que,
A
presença do adulto dá a criança condições de segurança física e emocional que a
levam a explorar mais o ambiente e, portanto a aprender. Por outro lado, a
interacção humana envolve também a afectividade e a emoção como elemento
básico. (1998:83:84).
De
acordo com o exposto as emoções estão presentes quando estabelecemos relações
com objectos físicos, concepções ou outros indivíduos. Afecto e cognição
constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer actividade. A
afectividade se estrutura nas acções dos indivíduos. O afecto pode, assim, ser
entendido como energia necessária para que a estrutura cognitiva possa operar.
Ele influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as
pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade.
Segundo
Morales (1998:61) a conduta do professor influi sobre a motivação, afetividade
e a dedicação do aluno ao aprendizado. Podemos reafirmar que o aluno se vê
influenciado por sua percepção em relação ao professor. O professor deve sempre
reforçar a autoconfiança dos alunos, manterem sempre uma atitude de
cordialidade e de respeito.
Afectividade segundo Henri Wallon
Para Henri Wallon, a evolução afectiva
está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento cognitivo, visto que difere
sobremaneira entre uma criança e um adulto, supondo-se a partir disto que há
uma incorporação de construções de inteligência por ela, seguindo a tendência
que possui para racionalizar-se.
Observamos, portanto, a inigualável
importância dos aspectos afectivos para o desenvolvimento psicológico, é por
meio das emoções que o aluno exterioriza seus desejos e vontades. Em geral são
manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco
estimulado pelos módulos tradicionais de ensino. A emoção é altamente orgânica,
altera a respiração e os batimentos cardíacos, causa impacto no outro e tende a
propagar-se no meio social. A afectividade é um dos principais elementos do
desenvolvimento humano. Conforme as idéias de Wallon (2003), a escola infelizmente
insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez
das emoções e do pensamento tão necessária para o desenvolvimento completo da
pessoa.
Falar de afectividade na relação
professor/aluno é falar de emoções, disciplina, postura do conflito do eu e do
outro. Isto é uma constante na vida da criança, em todo o meio do qual faça
parte, seja a família, a escola ou outro ambiente que ela freqüente estas
questões estão sempre presentes.
Para o autor, as teorias sobre emoções têm
base mecanicistas e difíceis de serem compreendidas. Primeiro ele as vê como
reacções incoerentes e tumultuadas, depois destaca o poder activador que têm as
emoções consideradas por ele positivas. O estudo da criança exigiria o estudo do/ ou dos meios onde ela
se desenvolve. O papel da afectividade no processo de mediação do professor
direcciona o olhar para a relação professor/aluno. Entretanto é possível supor
que a afectividade também se expressa sob outras dimensões humanas.
Nesse sentido o autor quer dizer que a
sociedade intervém no desenvolvimento psíquico da criança através de suas
repetidas experiências e das dificuldades para ultrapassá-las, já que a
criança, diferentemente de outros seres
vivos, depende por muito tempo de seus semelhantes adultos. A dimensão
afectiva é de fundamental importância para Wallon, seja do ponto de vista da
construção da pessoa ou do ponto de vista do conhecimento, sendo marcante para
o desenvolvimento da espécie humana, que se manifesta a partir do nascimento e
estende-se ao longo dos anos de vida de uma criança.
Uma criança normal, quando já
esta se relacionando afectivamente bem com o seu meio ambiente, principalmente
com a mãe, sente necessidade de ser objecto de manifestações afectivas para
que, assim, seu desenvolvimento
biológico seja normal. É comum
acontecerem reviravoltas nas condutas da criança e nas suas relações com o
meio, o qual é de suma importância para a existência da criança. O autor
acredita haver esta reviravolta desde o período fetal, prolongando-se além do
nascimento. Aos três anos escolares iniciam-se os conflitos interpessoais, onde
a criança opõe-se a tudo que julga diferente dela. Verificamos que no cotidiano escolar a maneira
de agir da criança vai corresponder a alguns princípios afirmados nas etapas
anteriores, tal como descritas por Wallon. Princípios estes necessários para
evitar crises penosas pelas quais a maturação da criança e o seu eu psicológico
podem passar. É na escola que a criança começa a emancipar-se da vida familiar,
nesse período é necessário disciplina, uma disciplina de ordem maternal.
A escola na figura do professor precisa
compreender o aluno e seu universo sócio-cultural. Conhecer esse universo é de
grande eficácia para o trabalho do professor que actua no plano universal,
cultural e pessoal. O professor tem que colocar acima de tudo sentimento de
amor, carinho e respeito na sua relação com o aluno. Rangel nos faz refletir
quando diz:
Acreditamos
que a escola deve se ocupar com seriedade com a questão do saber, do
conhecimento. Se um professor for competente, ele, através de seu compromisso
de educar para o conhecimento, contribuirá com a formação da pessoa, podendo
inclusive contribuir para a superação de desajustes emocionais ( 1992: 72 ).
Assim sendo, a prática educativa na
escola deve primar pelas relações de afeto e solidariedade, proporcionando
situações que dê prazer ao aluno de construir conhecimentos e de crescer junto
com o outro.
Afectividade segundo Vygotsky
Para Vygotsky (1996:78), relação
professor/aluno não deve ser uma relação de imposição, mas, sim de cooperação,
de respeito e de crescimento. O aluno deve ser considerado como um ser
interactivo e activo no seu processo de
construção do conhecimento. O
professor por sua vez deverá assumir um
papel fundamental nesse processo, como um sujeito mais experiente. Por essa
razão cabe ao professor considerar o que o aluno já sabe, sua bagagem cultural
é muito importante para a construção da aprendizagem. O professor é o mediador
da aprendizagem facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos diferentes
instrumentos culturais.
Segundo o autor, a construção do
conhecimento se dá colectivamente, portanto, sem ignorar a acção intrapsíquica
do sujeito. Assim o autor conceituou o desenvolvimento intelectual de cada
pessoa em dois níveis: real e potencial. O real é aquele já adquirido e formado
que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria já possui um
conhecimento consolidado. A abordagem do autor é de fora para dentro, através
da internalização, ele afirma que o conhecimento se dá dentro de um contexto,
afirmando serem as influências sociais mais importantes que o contexto
biológico. A aprendizagem acelera processos superiores internos que só são
capazes de actuar quando a criança encontra-se interagida com o meio ambiente e
com outras pessoas. É importante que esses processos sejam internalizados pela
criança. A educação é um processo necessário. É importante que esses processos
sejam internalizados pela criança. A educação é um processo necessário. É
importante considerar o principal objectivo da educação - que é a autonomia
moral e intelectual..
Assim, os autores referendados neste
estudo, Wallon e Vygotsky (2003), enfatizaram a íntima relação entre afecto e
cognição, superando a visão dualista do
homem. Além disso as idéias dos autores
aproximam-se no que diz respeito ao papel das emoções na formação do carácter e
da personalidade.
Vygotsky buscou delinear um percurso histórico
a respeito do tema afectividade. Sendo assim, procura explicar a transição das
primeiras emoções elementares para as experiências emocionais superiores,
especialmente no que se refere à questão dos adultos terem uma vida emocional mais refinada que as crianças. Ele defende
que as emoções não deixam de existir, mas se transformam, afastando-se da sua
origem biológica e construindo-se como fenômeno histórico cultural.
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